terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Lembranças da Minha Infancia e do Sr. Calimério



Eu, menina

Na  meninice, não damos importancia a certos detalhes sociais, politicos etc., mas não deixamos escapar outros tão importantes quantos os  citados, visto que são coisas do coração infante, que somente na madureza da vida temos condições de aquilatar.






Assim está registrada na minha memoria as lembranças do Sr. Calimério que conforme já citei noutro tópico, esteve presente na minha infancia, como a um ícone, um tanto distante, visto não o ter conhecido pessoalmente, mas que de uma forma especial, fez parte das lembranças que guardo.

Sr. Calimério
Ao deparar com este artigo, caras recordações me sopitaram a alma, e as transcrevo  para este blog na sua íntegra em forma de homenagem a um homem que marcou-me a infancia de forma muito especial, com sua bondade e generosidade ímpares.








Lateral externas da chácara

Claro que naquele tempo, não fazia idéia de quem era de fato o “Seu Calimério”,para nós, meninos arteiros e aventureiros, era apenas o dono da chácara onde volta e meia íamos pegar laranjas, doces laranjas que compensava o castigo que recebíamos de mamãe, e a vigorosa reprimenda  seguida de castigos de nosso pai, que não admitia que se bulisse nas coisas alheias sem o consentimento do dono, e da fazenda onde íamos buscar as frutas  da época.  




Adonai C. Terra-"In Memórium"
Fizemos eu e meu irmão Adonai, algumas incursões, mas logo compreendemos que deveríamos seguir os conselhos de nossos pais. Eu gostava mesmo era de perambular pelo serrado ao longo da cerca de arame farpado  que delimitava a chácara do "Seu Calimerio".


A Cruz
Tinha uma grande curiosidade pela velha e abandonada cruz  sem nome e apenas o ano 1940, grafado com desbotada tinta; Ninguém sabia por quem foi erguida, mas ela era ponto de referencia de nossas andanças, (antes da cruz, depois da cruz),e certa vez descobrimos que um bebê  rescem nascido havia sido enterrado aos seus pés. 

Foi o nosso cachorro, o Joli, que ficou maluco quando percebeu o pequeno embrulho, colocado à flor da terra numa cova rasa, e  que outro cão já havia remexido. Ficamos  muito assustados e fomos logo contar em casa.

Foto do conterrano Glaucio Henrique

Recebemos orientação para não bulir, e respeitar, porque certamente haveria de ser um bebê nascido antes do tempo e filho de pais desorientados, que optaram por aquela forma de enterro. Obedecemos. Mas o rostinho daquela criança ainda está na minha memória, assim como o mistério que guardava o cruzeiro, ou "a cruz", como dizíamos

Fazia isso pela manhã,mal o sol despontava, quando gostava de caminhar pelo serrado numa deliciosa e perfumada aventura, pelos capins  ainda molhados pelo orvalho da madrugada,conferindo as flores que desabrocharam, os frutos que despontavam e ver aquele inigualável céu azul; meu irmão tinha outras razões, como descobrir pegadas de onça parda ou lobos guarás , tatus, ninhos de imbú que chamavamos de "nhambú", 



e cujos ovos as vezes eram azuis, que me assustava sempre com seu voo repentino(quando levantam voo, soltam um agudo silvo)cuja função é distrair a atenção do invasor para longe do ninho , os lobos as jaguatiricas e onças  sempre apareciam por ali, em busca dos animais da chácara. 




Uma vez deparamos com um lôbo morto pelos funcionários da chácara provavelmente com intuito de defender as criações. 

Durante dias passamos a monitorar o trabalho dos urubus,(foi interessante observar a hierarquia das aves,a disciplina e o respeito ao 



chefe do bando chamado de urubu rei), aguardando que terminassem de limpar os ossos, pois os recolheriamos como trofeis (ouvíramos alguém dizer que com ossos e unhas de lobos podia-se fazer patuás protetores, e das unhas fazía-se patuas para criancinhas não sofrerem durante o rompimento dos dentinhos de leite; um dos meus irmãos usou um, feito com uma unha desse lobo, até nascer-lhes todas as prezas, sei lá se dava ou deu resultado, mas essas são as minhas lembrnaças.)



Doutra vez, o sr. Calimério, ele mesmo em pessoa, passou pela nossa porta com uma onça parda na carroceria de uma caminhote, que haviam capturado dentro da chácara pegando suas criações. Creio que a levou para algum Zoo, pois a bichinha estava  viva e bem.Hoje são  protegidas e monitoradas pela CCBE. 





Creio também, que esta foi a única oportunidade que tive de vê-lo pessoalmente, mas a onça roubou a cena.

Sabedor de que na casa do "Seu". Isaias tinha muitos meninos, e que costumávamos excursionar em torno da sua propriedade,  parou à nossa porta para que pudéssemos apreciar o animal, e tomar tento do risco que corríamos aventurando por aqueles matos. Rs!E nós acreditando que ele não sabia de nós!



Me lembro perfeitamente do animal assustado dentro da caminhonete azul e branca como a da foto, e vagamente das duas pessoas dentro da gabine. 


Mas não pense que isto terminou com nossas aventuras por ali não; pelo contrário, passamos foi a montar pequenas armadilhas, para marcar as passagens dos felinos durante as noites, o que íamos conferir pelas manhãs. 
Era uma aventura nova a cada dia.

Mamãe

Acho que nossos anjos de guarda ficaram de cabecinhas brancas muito antes que nossos pais.Não tínhamos, não conhecíamos medo.
Penso que isto era devido a herança a indigena  de mamãe. 

Éramos de fato bichos do mato, lugar onde nos sentíamos livres e ao mesmo tempo em casa; sempre curiosos e aventureiros. Meus filhos  e sobrinhos hoje não fazem idéia do que seja crescer  assim, livres e viver de aventura em aventura; Este é um dos motivos que me levou a registrar minhas memórias; Nossos filhos crescem presos dentro de casa,condominios, grades, longe da  natureza,onde as maiores aventuras são as virtuais.


Outras  duas cenas que tiveram lugar proximo a chácara  do "Seu Calimério" foram primeiro eu ter passado por cima de uma cobra, sem perceber; ela atravessava o ‘trieiro’(caminho formado pela frequente passagem de pessoas), e eu passei por  ela sem perturbá-la, só dando conta após meu irmão “Sizo”, me chamar a atenção, pois que vinha logo após mim. 

Foi engraçada a sensação; voltei-me e fiquei olhando a cobra de   metro e meio, fazer a travessia no sentido  do quintal da chacara, depois seguimos adiante.




Devo lembrar, que esta se localizava, do lado oposto a avenida Melo Viana, que naquela época era estrada de terra batida, sem nenhuma pavimentação, depois da Marcenaria do sr. Marcelo Menegueli, pai do Renan e do Luis Paulo,  meus colegas de escola, no ensino fundamental), bem uns duzentos metros do cruzeiro que havia ali. E depois da casa do sr. José “Foieiro"(na verdade era um artesão funileiro que trabalhava com folhas de flandres, com que fazia bacias para todo tipo de uso , inclusive banhos

Todas as casas tinhamum exemplar, e esta servia tanto no giral  de lavar roupas, quanto no quarto de banho, na higiene da familia. Quem tinha banheiro nos moldes dos de hoje, chamaós de "privada patente" e patente era o vaso sanitário.

  Tachos de  latas muito usados nas cozinhas para lavar "trendicuzinha", louças, canecas ,regadores para molhar plantas, 



bules, lamparinas e fazia um tacho de cobre martelado, como nunca mais vi, e me disse certa vez, ter aprendido a técnica comum cigano que conheceu do qual se tornou amigo, ainda guardo a miniatura de tacho de cobre,  com que me presenteou na minha última visita a Araguari no ano de  1988  e a dona Maria Machado, pais de Terezinha e Maria José, e mais um monte de filhos. Maria José foi uma belissima moça e veio a ser Miss na cidade de Goiania anos depois.
  Voltemos ao assunto: Bom caminhava-se sempre no sentido norte oposto ao centro da cidade, pela rua Goias, onde morávamos um quarteirão depois da EPG  Antonio Nunes de Carvalho Filho,  atravessava-se a avenida, e estava numa área aberta, das minhas aventuras juntamente com meus irmãos. 



Outra situação ocorrida ali, que me marcou, foi um pequeno acidente onde quase matei meu irmãozinho Sizo, que era franzino e me acompanhava quando fui buscar tocos e gravetos para o fogão de lenha de mamãe; Ela tinha o a gáz, mas uzava o de lenha, e eu era  encarregada de abastecer o pequeno depósito, com tocos (resultado das destocagens no serrado,creio eu hoje, que para limpar a área em torno da chácara,Esses tocos, eram bons para fazer brasas, e os gravetos no que eu era especialista em encontrá-los bem sequinhos e de pé, mesmo depois de vários dias de chuva. Costumava levar um machado, para desenterrar raizes seme enterradas, e a técnica era dar com o ‘olho’ do machado na cabeça do toco até deslocá-lo, pra puxar.

 Quando levantei e armei  machado, estirando-o para traz, acertei a testa do meu irmãozinho. Pensei tê-lo morto. Muito chocada, coloquei-o dentro do carrinho de mão e corri como nunca havia feito, até chegar com ele em casa, e aí foi a vez de quase matar mamãe de susto, mas tão logo minha irmã Cleide lavou o ferimento, vimos que tudo não passava de um enorme galo, e um pequeno corte de uns dois centimetro. Mas o tamanho da minha culpa não pode ser medido. Durante anos pedi perdão ao meu irmão, por ter-lhe ferido. Já havíamos tido contato com reduto do Sr.Calimério, quando morávamos no bairro do Moinho de Ossos, e íamos lá pras banda do Clube do Pica-Pau, buscar frutas, deliciosas frutas de época e  na época em que o sr. Tobias era o administrador, de uma das fazendas do sr. Calimério.


 Viu quantas lembranças  me veem a tona ao simples fato de lembrar do sr. Calimério?

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3 comentários:

Zilda Santiago disse...

Bonita homenagem!!Passando para conhecer e seguir as amigas do Blogueiras Unidas que também participo!!Bjsss
http://rumoslibertadores.blogspot.com – 494

http://zildasantiago.blogspot.com - 493
http:carinhossorteiosetcetal.blogspot.com – 955

Blogueira Unidas - Oficial disse...

Oi amiga querida!

Linda homenagem!!Lembranças de infância muito bem descritas.
Adorei ler tuas aventuras!
Beijocas!

Elimar Souza disse...

Oi Flor... Vim visitar o seu cantinho. Sou do Grupo Blogueiras Unidas (número 1644). Já estou seguindo. Me segue também?

Alquimia dos Romances

http://www.alquimiadosromances.com.br/

BJs e obrigada pela força...