sexta-feira, 19 de junho de 2015

Machismo, lgbtfobia e racismo da ESALQ -O que h

O que está acontecendo com nossos jovens Universitários?
O que podemos esperar deles?
O que receberam de educação em seus lares?


Por  Élice Botelho


Antes de ontem estava no C.V. e alguém, que não me recordo, me chamou pra ver uma coisa em um dos murais. Quando vi, percebi que o nível de machismo, lgbtfobia e racismo da ESALQ não param de piorar.
Há boatos de que esse cartaz foi feito em duas repúblicas masculinas, e que todos os bixos que vão lá pegar ração na hora do almoço/janta escrevem o nome de alguma menina nas colunas. Pensei que a CPI de Violação de Direitos Humanos das Universidades Estaduais Paulistas tivesse alertado as pessoas, mas a prova mostra que na verdade tem gente que ta no caminho oposto. 
O que me chama mais atenção, sem dúvida, é o "teta preta". Sendo mulher e negra fico me perguntando o que tem de errado, a ponto de ser usado como uma "brincadeira" que em tese é para "zoar" algum aspecto negativo de alguém, o fato de se ter a teta preta. Além do próprio termo "teta", como se fosse de algum animal. Sinto em lhes informar, mas mulher negra tem os mamilos/bicos do peito/peitinhos/TETA preta sim. Que diacho de cor teria? Rosa? 
De novo vejo alguma característica da mulher negra sendo utilizado como ofensa, por que o corpo da mulher negra é extremamente objetificado. Porque o bonito continua sendo a pele branca e macia, os mamilos rosados e o cabelo liso. E eu lhes digo que BASTA! 
Basta por que são coisas como essas que fazem muitas mulheres negras terem a auto-estima extremamente baixa, se sentirem solitárias, não serem desejadas e acabarem não se relacionando. Basta por que cotidianamente diversas mulheres negras negam seu próprio corpo por saberem que nunca se enquadrarão nesse padrão europeu. Basta por que cotidianamente milhares de mulheres negras negam sua própria cor e cultura e SOFREM!
Se para as mulheres brancas a padronização da beleza já é triste, para as mulheres negras essa dor vem em dobro com o racismo. 
Além disso, falar que uma menina tem a buceta fedida é misoginia! É repulsa às características femininas, além de também ser extremamente higienista. Buceta tem cheiro, tem gosto, e naturalmente tem pelo. E o mais incrível é que pinto também, e nem por isso há motivo de chacota.
São por coisas assim que milhares de mulheres possuem extrema dificuldade de conseguirem ter prazer sexual, que negam suas características e o seu prazer em prol do prazer masculino, do falocentrismo.
E não dá pra deixar batido o "Sociedade do Anel" (que também possui nome de homens). Obvio que não era de se esperar menos, visto a cultura "agroboy" que tem na ESALQ. Pra ser Agronomia tem que ser Macho, e é Macho com M maiusculo, que é pra deixar bem claro. "Se não pegar ninguém na balada é viado."
Sem dúvida esse tipo de atitude influencia para que a ESALQ seja esse campus extremamente heternormativo, onde as poucas LGBT's que aparecem em sua maioria se escondem por trás dos padrões heterossexuais de comportamento para serem mais aceitas.
Observo a rotina da ESALQ e me pergunto onde moram a maioria das LGBT's existentes aqui, por que dificilmente as vejo nos locais públicos de sociabilização, na recepção dos ingressantes, no C.V. na hora dos intervalos, na maioria das festas, na maioria das repúblicas. As LGBT's da ESALQ ainda ainda se escondem...
Enquanto isso, o que deve ser feito para melhorar a imagem da ESALQ por causa dos vários casos que surgiram durante a CPI é fazer doações para instituição de caridade. 
Em primeiro lugar, para se limpar a imagem da ESALQ é necessário combater as opressões! É necessário haver campanhas institucionais de conscientização sobre esses assuntos. É necessário que as pessoas parem de olhar para seu próprio umbigo e comecem a pensar que muitas coisas que fazemos podem ofender e magoar outras pessoas, e que piada não camufla opressão. Vejam como estão em situação de privilégio e PAREM!
Acima de tudo isso, é necessário haver coletivos auto organizados para pautar coletivamente, e com muito mais força, as reivindicações daqueles que são de fato oprimidos. Somente a luta coletiva muda a vida, e se não for quem realmente sofre determinada opressão reivindicar seus direitos, não serão aqueles que estão em privilégio que o farão, como pode ser bem observado. Somente nos organizando e lutando com muitos outros iguais a nós é que conseguiremos avançar para uma ESALQ, e também uma sociedade, mais igualitária e justa, onde a diversidade seja um ideal e não um defeito.

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